Aprendizagem ou Ensinagem?
Um tempo atrás estava eu lendo o jornal Folha de São Paulo, quando me deparei com um texto do filosofo Luís Felipe Pondé. Provocativo como sempre, ele afirmava em sua coluna semanal que os sistemas educacionais estão sempre mudando por um simples motivo, eles não funcionam. Segundo o filósofo, “nada realmente importante pode ser ensinado”.
Eu que estudei muito para me tornar professor de matemática, naquele tempo já tinha uns 15 anos trabalhando em sala de aula em praticamente todos os níveis de Ensino, do Básico até Pós Graduações, fiquei perplexo. Se Pondé estiver correto, de duas uma: ou o que eu ensinava não tinha importância ou tinha importância, mas meus alunos não estavam aprendendo. Um dilema devastador para um professor.
Depois de muitas reflexões, leituras, debates, experiências e principalmente uma busca incansável por metodologias que me ajudassem como professor a mostrar para meus alunos,além da importância da matemática, que garantissem que eles aprenderiam os tópicos ensinados, percebi que a questão que me afligia tinha contornos simples e uma resposta óbvia: o que é realmente importante dificilmente vai ser ensinado, mas pode e deve ser aprendido e cabe a nós professores, propormos as situações de aprendizagem. E nestas proposições nossos pupilos deverão se deparar com desafios que os façam desenvolver as competências e habilidades necessária para uma vida plena.
Veja bem, ensinar sempre será uma atividade importante e nobre, mas proponha para uma criança um desafio interessante que exija dela alguns conhecimentos específicos, se comporte humildemente como um mediador, uma ponte entre ela e o conhecimento necessário e você verá florescer um incansável investigador, um cientista, um engenheiro, um designer.
A nova BNCC (Base Nacional Curricular Comum) apresentada recentemente propõem um corpo robusto de Competências e Habilidades que deverão ser desenvolvidas por cada estudante brasileiro. Este documento pode ser “mais uma mudança” no nosso sistema educacional, paliativa como tantas outras. Mas também pode ser uma oportunidade para darmos um salto qualitativo na educação das próximas gerações. Para isso é necessário que cada escola, cada professor, as famílias, percebam que não se desenvolve competências importantes em uma criança com aulas expositivas tradicionais. Temos que começar a discutir aprendizagem e parar de discutir “ensinagem”. Com auxílio da tecnologia, temos que ter coragem de mudar e buscar boas referências nas experiencias que estão dando certo em outros países. STEM, STEAM, Pensamento Computacional, Metodologias Ativas, Projetos são caminhos já trilhados e já está passando da hora de nossas escolas assimilarem estas propostas.
A expressão “ensinagem” faz parte de uma reflexão que li em um excelente livro: “A Máquinas das Crianças” de SeymorPapert da editora Artes Médicas. Papert é professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e o criador da linguagem de programação LOGO, usada para programar os robozinhos da LEGO. Este autor é um entusiasta de uma mudança radical na educação onde devemos focar mais na aprendizagem das crianças do que no ensino. Pode parecer estranho para quem passou grande parte da vida sentado escutando professores, mas totalmente viável para quem já teve alguma experiência desenvolvendo projetos com crianças como fazemos na DoctorStem. Nossa metodologia faz de cada criança protagonista da própria aprendizagem quando propomos desafios envolvendo engenharia, robótica, programação e desenvolvimento de games. A metodologia STEM está antenada com que há de melhor no mundo e no Brasil com as novas tendências norteadas pela BNCC.
Uma revolução silenciosa está acontecendo na educação e estou muito feliz em poder fazer parte dela.
Por Rodrigo Levi Rufca
Team DoctorStem