Como garanto que meu filho esteja seguro, enquanto navega na internet? Como eu me relaciono com meu filho de 15 anos, cujo telefone precisa ser cirurgicamente retirado da sua mão? Como faço para meu filho de 5 anos solte o tablet, quando o tempo de uso parece excessivo?
Dez anos atrás não precisávamos fazer estas perguntas e nem conviver com essas preocupações. Mas hoje, estas questões são reais e precisamos de respostas. Criança e internet é uma combinação que veio para ficar. Não importa a idade, é cada vez mais comum ver meninos e meninas navegando em sites de jogos, redes sociais e até salas de bate-papo. Na época de férias então, esse tempo na frente do computador aumenta consideravelmente.
Para especialistas, os pais devem ser responsáveis pela educação tecnológica de seus filhos. Educar na sociedade da informação não é apenas investir em aparato tecnológico e ensinar a usá-lo. Não adianta o jovem saber como utilizar a ferramenta digital; é preciso educá-lo sobre como usá-la de maneira responsável, ética e segura.
Recentemente, a especialista britânica Katharine Hill lançou um livro com o título “Left To Their Own Devices?” (algo como “Deixados à própria sorte?”, em tradução livre), onde não só identifica algumas das situações as quais pais, avós e adultos de referência devem estar atentos, como cita oito sugestões para promover o uso da internet e aparatos tecnológicos de uma forma mais segura em meio familiar.
1 – Não proibir a tecnologia:
“Não é produtivo impedir as crianças de ter acesso à tecnologia. Eventualmente, haverá um amigo ou colega que tem um tablet ou um smartphone e as imagens e conteúdos vão chegar até elas. Trata-se, antes de mais nada, de aprender a distinguir o certo do errado”.
2 – Não deixar que os computadores dominem o cotidiano:
“Como pais ou avós, há de se evitar que a vida seja passada à frente dos computadores, tablets e smartphones, começando por dar o exemplo. Deve-se falar sobre o tempo que poderia ser aproveitado em outras atividades de lazer, muitas vezes tão ou mais prazerosas. E, se for necessário, estabelecer regras de utilização adaptadas às diferentes idades das crianças e adolescentes”.
3 – Criar um “acordo tecnológico familiar”:
“Uma das coisas mais importantes que os pais podem fazer é utilizar os valores familiares no uso da tecnologia. Por exemplo, criar um ‘acordo tecnológico’ que estabeleça claramente o que as crianças estão autorizadas a fazer, o que deve ser evitado e o que não pode ser feito, baseando essas escolhas nos princípios que regem a vida da família”.
4 – Deixar os equipamentos a carregar fora do quarto
“Uma parte importante desse ‘acordo tecnológico’ é estabelecer que os carregamentos dos aparelhos são feitos, durante a noite, fora dos quartos. Isto é o equivalente a impedir o acesso à internet durante essas horas. Mas, muita atenção: mais uma vez, todos os membros da família devem respeitar essas ‘horas sem net”, tanto crianças como adultos”.
5 – Usar os sistemas de controle parental
“No Reino Unido, a idade média em que as crianças têm acesso aos primeiros conteúdos pornográficos é aos 11 anos. Por isso é extremamente importante usar os sistemas de controle parental nos sites e smartphones.
Não há dados que comprovem o quanto as crianças brasileiras estão, desde cedo, em contato com material pornográfico. No entanto, não há dúvidas de que o acesso à internet, muitas vezes, facilita essa situação. Para Bruno Mader, psicólogo do Hospital Pequeno Príncipe, essa exposição precoce é preocupante. “Dos 6 aos doze anos, nos valemos de conteúdos fantasiosos para entender o mundo. Questões tão explícitas assim causam uma confusão de papéis porque as crianças não são maduras o suficiente para entender”, explicou. “Não é legal para elas, não tem nada de positivo. Não se trata de impedir acesso à informação e conteúdos positivos, mas sim gerir e bloquear conteúdos impróprios”.
6 – Estar envolvido na “vida online” dos mais novos
“No caso dos adolescentes, não há como evitar: os adultos precisam fazer parte das suas redes sociais e segui-los atentamente. Mas nunca de uma forma que pareça controladora, mas mostrando um envolvimento positivo. Um exemplo pode ser tirar uma foto de uma atividade em família e postá-la conjuntamente no Instagram”.
7 – Estar informado e preparado para falar
“Não se pode enterrar a cabeça na areia e evitar falar de assuntos difíceis. Os pais podem pensar algo como ‘o meu filho não vê pornografia’ ou ‘nunca será uma vítima da Baleia Azul’, mas isso está longe de ser uma certeza. Daí a importância dos adultos manterem-se informados sobre os desenvolvimentos tecnológicos, sejam eles bons ou maus, para que as crianças saibam que podem falar abertamente sobre estes temas e serem compreendidas”.
8 – Limitar o uso dos equipamentos pelos adultos
“Mais uma vez repito que é essencial ensinar pelo exemplo. Os valores são transmitidos e não impostos. Se nos momentos em família, durante as brincadeiras ou às refeições, os adultos não largam os computadores, tablets e smartphones, nada mais natural que as crianças e jovens façam o mesmo. Há que se mostrar que o pai e a mãe sabem limitar o seu uso, em vez de lhes exigir que o façam apenas porque são os mais novos”.
Acreditamos que, ao nos conscientizarmos de que o exemplo vivo é algo fundamental, estaremos cuidando dos nossos filhos, mas também cuidando de nós mesmos. Ao estarmos conscientes dos valores que queremos passar, percebemos quais deles devemos cultivar nas nossas vidas e deixar de legado para a vida dos nossos filhos.