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Como a nova Base Nacional da Educação poderá revolucionar o ensino brasileiro

Por Guerino Parucci*

No dia 15 de Dezembro de 2017, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e ensino fundamental. Segundo o MEC, os ajustes no currículo de todas as escolas iniciam-se agora com o início do ano escolar de 2018 e sua implementação total deverá ser realizada durante o ano de 2019.

Mas você sabe o que realmente muda com a nova base e o como as escolas precisarão se preparar para atender à nova legislação da educação brasileira? Recentemente tenho lido diversas matérias e posts onde “estudiosos” demonstram suas preocupações como a nova base, dando especial destaque ao seu impacto nas questões religiosas, étnicas ou de gênero. Sem dúvida, alguns pontos exigirão ajustes significativos na forma de abordagem a ser feita pelos professores.

Sem desmerecer a importância dos temas anteriores, é impressionante ver como pouco se falou sobre as mudanças que mais afetam os estudantes e que pode mudar o futuro de uma nação.  A nova base, se adequadamente aplicada, poderá criar uma nova geração de cidadãos com capacidade de adquirir conhecimento e, mais importante, que pode fazer uso prático dele.

Os fundamentos pedagógicos da BNCC citam que “as decisões pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho)”. Desta forma, a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC.

Numa análise mais profunda, ao incluir o conceito de “Competências”, percebemos claramente que a nova base se inspira em modelos amplamente difundidos em países como Estados Unidos, Austrália, Portugal, França, Colúmbia Britânica, Polônia, entre outros, onde já não basta ficar sentado em uma sala de aula ouvindo o professor falar sobre um conceito ou tema com a finalidade de fazer uma “avaliação de conhecimento”. Mas onde a busca das escolas é tornar o conhecimento algo real, que faça sentido, seja palpável e, principalmente, que leve o aluno a entender como esse conhecimento pode ser usado na prática.

Destaco em especial as competências nº 1 e 2 da Nova Base, que enfatizam a necessidade de valorizar e utilizar os conhecimentos para entender e explicar a realidade e de se criar uma abordagem científica, que passa pela investigação inicial, segue pela reflexão, análise crítica, imaginação e criatividade, investigação, elaboração e teste de hipóteses.

É este o ponto mais importante da nova base. Não há como ir da investigação ao teste de hipóteses sem passar pela construção prática. Para reforçar esta afirmação, as Unidades Temáticas retratam as habilidades específicas que devem ser trabalhadas na nova base da educação brasileira. Elas informam os temas a serem abordados, em especial nas Unidades de Ciências e Matemática que sugerem a exploração prática de conceitos da mecânica, química, física, eletrônica, entre outras.

É interessante ver na nova base exemplos como o citado na habilidade ‘(EF08CI02): construir circuitos elétricos com pilha/bateria, fios e lâmpada ou outros dispositivos e compará-los a circuitos elétricos residenciais”. Implementar este tipo de atividade cria uma relação clara entre o mundo real e os conceitos explorados na sala de aula, fortalecendo o processo de aprendizado.

Um estudo desenvolvido por Mary Brabec, Jill Jeffrey e Sara Fry da Universidade de Nova York e publicado na APA (American Psychological Association), enfatiza que “não importa o assunto que você ensina, as diferenças na performance dos alunos são afetadas pelo quanto eles se envolvem em práticas deliberadas”. O estudo aponta importantes distinções, destacando os benefícios significativos do ensino prático contínuo, quando comparado com outros modelos, como jogos ou o aprendizado por repetição.

 

Entre os benefícios do ensino prático citados no estudo, dois pontos chamam a atenção:

– Exercitar na prática o conhecimento aumenta consideravelmente a probabilidade dos alunos se lembrarem permanentemente das novas informações. Pergunte a qualquer aluno que tenha preparado e apresentado algum tema numa feira de ciências e verá como os fenômenos naturais, históricos e geográficos investigados foram realmente aprendidos e serão lembrados durante muito tempo. O fato é que ouvir falar sobre as leis do movimento de Isaac Newton é diferente de ver como essa teoria acontece na prática.

– Quando alunos são envolvidos na resolução de problemas de forma prática, eles aumentam sua capacidade de transferir as habilidades praticadas para problemas novos e mais complexos. Isso significa que alunos confrontados com este tipo de atividade prática desenvolvem a “competência” necessária para solucionar problemas, tirando proveito disso por toda a vida.

Essa é a característica fundamental na atuação de Engenheiros, Físicos e Cientistas e formam a base do desenvolvimento econômico de uma nação. Basta olhar a lista dos Top 13 CEO´s citados na “Investopédia” e veremos que seis deles (quase 50%), são formados em alguma área da Engenharia. E na lista dos 500 maiores CEO´s da Fortune, é possível verificar que aproximadamente 1/3 possui graduação em engenharia. O fato é que, mais que terem boas ideias, engenheiros são confrontados com desafios o tempo todo e desenvolvem a “competência” necessária para resolvê-los. E é justamente isso que a Nova Base Nacional – se bem aplicada – pode desenvolver nos alunos brasileiros. Sem dúvida, isso vai representar um grande avanço na formação dos nossos estudantes.

É importante citar, ainda, que tornar a investigação científica prática uma rotina nas escolas, tira o aluno da sua posição de observador e o transforma em protagonista do seu aprendizado. E essa repetição, quando bem aplicada, se torna um fator motivador e transformador.

 

É preciso cuidado: ensino prático, na prática, requer critérios

Apesar de parecer simples, implementar um modelo de ensino baseado em “competências” com atividades práticas, requer muita atenção ou poderá ter efeito contrário ao desejado. O mesmo estudo da Universidade de Nova York destaca que: quando os alunos são bem sucedidos nos problemas investigados, os benefícios da prática são maximizados. Mas quando os alunos são confrontados com a prática de problemas irrealistas ou mal concebidos, podem se frustrar e não receberão os benefícios completos da prática.

O cuidado com a implementação de modelos práticos deve envolver a correta informação e orientação ao estudante, e cabe ao professor atuar como coadjuvante da investigação científica, guiando os alunos durante toda a atividade e ajudando-os a refletir sobre as estratégias para a solução dos problemas propostos.

A implementação da nova Base Comum Curricular, entre outras adaptações, exigirá das escolas a busca de soluções que envolvem toda uma estrutura física e de equipamentos de medidas, de química e até computadores e tablets, que são fundamentais para dar suporte a experimentação científica pelos alunos.

Mas o maior desafio será, sem dúvida, priorizar atividades comprovadamente validadas e que possibilitem a maximização dos benefícios do ensino prático. Para isso, as escolas precisarão se espelhar em modelos testados e comprovados, a exemplo do STEM Education, amplamente difundido em nações mais desenvolvidas e, em especial, adquirir as competências necessárias para a aplicação do modelo proposto pelo MEC.

 

Autor: Guerino Parucci é empresário e há 2 anos trouxe para o Brasil um modelo de franquia com o objetivo de difundir a educação científica prática nas escolas. O modelo da Doctor Stem – único no país – é baseado na metodologia do Stem Education, aplicada através do Processo de Design e Engenharia.

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