A BNCC e o desenvolvimento integral
Ainda que seja passível de críticas, a nova Base Nacional Comum Curricular para o ensino fundamental, representa, sem dúvida, uma evolução significativa na relação das escolas com seus alunos.
Tanto o currículo das escolas como os professores precisarão se adaptar para atender as novas demandas geradas pela base.
Basta olhar o seu capitulo introdutório, onde estão aquelas que podem ser consideradas, as maiores inovações previstas no documento.
Um exemplo claro dessas inovações é, por exemplo, a concepção de uma educação integral, não no sentido de período integral, com 10 horas de estudo por dia, mas uma educação que contemple todas as dimensões do desenvolvimento humano, tanto na sua parte cognitiva, intelectual, acadêmica, física, social, emocional e cultural.
Para desenvolver todas essas dimensões, será necessária uma mudança no foco dos currículos brasileiros, que deixam de se preocupar somente com o conteúdo a ser ensinado para se preocupar com o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos.
Nesse cenário, não bastará ao professor saber ensinar os conteúdos das matérias ou entender quais são os conteúdos curriculares. Ele precisará estar preparado para desenvolver nos alunos a capacidade de utilizar este conhecimento de forma aplicada.
No âmbito da BNCC, essa capacidade de ativar e utilizar o conhecimento adquirido ao se defrontar com um problema, é chamada de Competência.
Isso significa dizer que,mais que aprender Matemática, o aluno precisa aprender a lidar com os problemas da vida cotidiana e ser capaz de se expressar e agir, aproveitando o conhecimento que adquiriu durante sua vida escolar.
O primeiro capítulo da BNCC disserta sobre as 10 competências a serem desenvolvidas durante o ensino fundamental, as quais resumo abaixo:
- A primeira competência trata da valorização e utilização do conhecimento já adquirido para aprender e explicar a realidade. Trata-se, portanto, de criar no aluno a capacidade de se apropriar de um conhecimento que já existe, seja em áreas de humanas ou exatas.
- A segunda competência enfatiza o desenvolvimento do pensamento crítico, exercitando a curiosidade intelectual e a abordagem científica para investigar, gerar e testar hipóteses e desenvolver soluções com base nos conhecimentos adquiridos. Trata-se nesse caso de ensinar ao aluno a pensar criticamente, questionar a realidade e utilizar sua criatividade para criar soluções, aprendendo a ver o problema por ângulos e perspectivas diversas.
- O desenvolvimento do senso estético e a valorização de manifestações artísticas e culturais são o foco da terceira competência. Além de apreciadores das diversas formas de arte e cultura, a ideia é desenvolver nos alunos a capacidade de serem produtores de arte e cultura.
- A quarta competência diz respeito a capacidade de comunicação do aluno. Isso incluí sua capacidade de escutar, compreender, argumentar, expressar sua ideias e sentimentos e emitir opiniões em linguagem escrita, verbal e corporal, utilizando múltiplas mídias, sejam essas eletrônicas ou não.
- A quinta competência trata exclusivamente da utilização das tecnologias digitais. O foco aqui é o desenvolvimento da cultura digital e como o aluno se relaciona com essa cultura, em especial na sua capacidade de desenvolver conhecimento sobre o mundo da tecnologia e do pensamento computacional, mas também como lidar com essas tecnologias de forma crítica e ética.
- A sexta competência valoriza a diversidade de saberes e vivenciais culturais. A proposta é ensinar aos alunos a se apropriarem do conhecimento para criar suas próprias opiniões e fazer escolhas alinhadas às suas convicções, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
- A sétima competência diz respeito a valorização do conhecimento e experiência adquirida como forma de embasar escolhas e opiniões. Trata portando do desenvolvimento da capacidade de argumentação com ideias convictas,baseadas em fatos e no conhecimento, mas sem perder de vista o respeito à opinião dos outros e à diversidade cultural.
- A oitava competência busca levar o aluno a se conhecer e cuidar de si próprio, tanto na questão física como emocional, aprendendo a lidar com situações do cotidiano e com a pressão.
- A nona competência cita o exercício da empatia, do diálogo, da cooperação e da resolução de conflitos e trata em especial do respeito ao próximo, independente de sua origem, crenças, opiniões, gênero, orientação sexual ou opções políticase sociais.
- A décima competência diz respeito a capacidade de agir, pessoal e coletivamente, com autonomia, responsabilidade e flexibilidade. Nesse aspecto, é preciso desenvolver no aluno a capacidade de gerar suas próprias metas e ter disciplina, resiliência e persistência para alcança-las. Significa ainda desenvolver a ideia de grupo e de quão importante a atuação de cada membro é para o resultado do todo.
Essas competências gerais são ainda refletidas nas competências especificas de cada área do conhecimento e componente curricular da nova BNCC.
Fica evidente, portanto, que o modelo atual, baseado em aulas expositivas, deixa de ser o conteúdo principal do modelo de ensino a ser implementado.
As escolas precisarão oferecer oportunidades para que os alunos sejam desafiados e provocados para que exercitem, desenvolvam e fortaleçam essas competências, ao longo do ensino fundamental.
Certamente o desenvolvimento dessas competências acontecerá de forma diferente de um aluno para o outro, em função da sua personalidade, jeito de ser e até mesmo da exposição ao modelo de ensino oferecido por cada escola.
Mas, sem dúvidas, essas competências são um convite aos educadores para pensar em práticas pedagógicas interdisciplinares mais ativas, práticas e participativas, que ofereçam condições favoráveis ao desenvolvimento do aluno, não só no aspecto intelectual e de conhecimento, mas também em suas habilidades e atitudes, afim de se tornarem pessoas mais preparadas para viver num mundo que os desafia diariamente em todas essas dimensões.
Guerino Parucci
CEO – Doctor Stem